Turismo impulsiona reabilitação urbana e já falta mão-de-obra. Patrões e sindicatos pedem mais fiscalização à clandestinidade.
construção, depois do colapso dos últimos anos, deu a volta à crise e está já com falta de mão-de-obra – foram criados 23 mil empregos só no primeiro trimestre deste ano, mas vão ser precisos 80 mil trabalhadores no espaço de dois a três anos. O setor, que perdeu 200 mil empregos desde 2010, pouco antes da chegada da troika, está a ser impulsionado pelo crescimento do turismo e da reabilitação urbana, muito ligada ao alojamento local.
No ano passado foram licenciados 11 mil novos edifícios e seis mil de reabilitação urbana; em 2014, no pico da crise, tinham sido licenciados apenas 8955 edifícios e a reabilitação de imóveis caiu para um mínimo de 5435 em 2015. E, desde o início deste ano, o índice de produção da construção ainda não parou de crescer, tendo aumentado 1,6% só em abril.
“É preciso criar condições para que os operários que emigraram possam voltar”, designadamente subindo os salários, defende o sindicalista Albano Ribeiro. Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), concorda, mas lembra que é preciso também combater a clandestinidade. “A perda de 37 mil empresas atirou para o desemprego muitos milhares de pessoas que hoje andam, por aí, a fazer pequenas obras de forma clandestina. É preciso combater essa concorrência desleal, reintegrando os trabalhadores nas empresas.”
Há uma grande dinâmica de reabilitação urbana nos centros históricos de Lisboa e Porto, mas está ainda “muito aquém das necessidades do país”. O último levantamento indicou 1,5 milhões de fogos por reabilitar, dos quais 600 mil a precisar de intervenção urgente. “São 24 mil milhões de euros de investimento, mas é um plano a 20 anos”, lembra Reis Campos. “Se a reabilitação entrar em velocidade de cruzeiro, e com a prioridade que o primeiro-ministro estabeleceu, afetando cinco mil milhões para isso até 2021, precisa- remos de mais 60 mil trabalhadores logo ao fim de um ano.”
Mais e melhor fiscalização é também o que pede o sindicato, que fala em “escravatura moderna” de trabalhadores da Europa de Leste e da América Latina. “Trabalham 16 horas por dia e ganham o salário mínimo”, garante Albano Ribeiro, que exige a intervenção da Polícia Judiciária, da Autoridade para as Condições do Trabalho e da Segurança Social. “Se a construção está a contribuir para o crescimento económico do país, há que o reconhecer e aumentar os salários”, diz Albano Ribeiro. “Um carpinteiro, que cá ganha 557 euros, na Alemanha recebe 3200 euros. Assim não conseguimos que nenhum dos 240 mil operários que saíram do país regressem.”
Ricardo Gomes, presidente da Associação das Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços (AECOPS), nega estes números e acredita que, por força da pressão da procura, os salários irão começar a subir, funcionando como um incentivo para o regresso desses operários. “Terão saído de Portugal 120 a 150 mil trabalhadores da construção. Os que foram para França e para a Suíça é mais difícil regressarem, mas há muitos que estão na Holanda, na Escandinávia e no Reino Unido que não levaram as famílias e que, quando as remunerações começarem a subir, por via da escassez natural, aceitarão voltar.” Por quanto? “São trabalhadores que, em circunstâncias normais, ganham 2500 euros por mês, mas que provavelmente gastam 500 euros para lá estar. Será natural que por 1500 euros já estejam dispostos a regressar.”